Baile muderno
Julio de Paula | 22.03.2011
Ao longo do século 20, a música foi se desenvolvendo (também) em torno dos recursos tecnológicos inventados e melhorados a cada dia. Desde as criações radiofônicas datadas dos anos 1950 (Radio France, com Schaeffer, e WDR, com Stockhausen), passando pelos samplers e teclados dos anos 1980 e computadores, um sem número de projetos vislumbraram sua potência no uso de recursos “sintéticos”. O mesmo não poderia deixar de acontecer com a cultura popular ou o repertório musical em torno da cultura popular. Na virada do milênio, enquanto mestres e grupos brincantes passaram a gravar seus próprios CDs, músicos e experimentadores da arte acústica passaram a cruzar a tradição musical imemorial com recursos da era eletrônica.
“Os negros colocaram as máquinas para dançar”, diz o antropólogo Hermano Vianna em seu ensaio Tecnologia do transe, publicado em 1997 na Folha de SP. Vianna relata que os negros ao redor do mundo aprenderam “à sua maneira” a usar a tecnologia ocidental “com finalidades nunca imaginadas por seus inventores”. Como que um presente oferecido ao mundo pela diáspora africana. Regalo configurado na batida “tribal”, que (além de dançar) nos faz conectar e pertencer a algo comum: o gênero humano.
Nesta compilação, alguns trabalhos com raízes eletrônicas criados a partir do repertório dos terreiros e das cidades. Projetos originais que contam com a participação dos mestres ou com amostras de suas vozes. Também aqueles que partem do totalmente novo sob um olhar “etnográfico”. A maior parte dos trabalhos trata, também, do reconfigurar o universo da canção popular, tão cara à cultura do brasileiro.
Axial, Chico Correa & Electronic Band, Candombless, DJ Dolores, Isaar, Seu Jorge, Ricardo Severo e Loop B fazem desta edição Veredas um autêntico arrasta-pé no chão de beats e samples. Baile muderno é título da canção assinada por Jonathas Falcão para o álbum de Chico Correa editado na Paraíba em 2006.
http://www.culturabrasil.com.br/programas/veredas/arquivo-15/baile-muderno-2
